Playlist #40 – Tomás Abreu Posted in: Playlist

Terceira Lua
2019
Instalação com espelhos circulares, fio de nylon, arame, projectores de recorte, filtros

A partir de uma rotina de dois movimentos lineares e inconstantes extrai-se a terceira variável que origina a revelação da outra lua. Quatro variações de sobreposições de dois reflexos circulares reproduzem fragmentos minguantes em rotação. Duas projecções encontram-se para um reflexo acelerado que dura segundos. A distância disforma a elipse com a forma das superfícies que desenham o ambiente. Os limites do espaço dispersam ângulos diagonais enquanto a corrente e a movimentação na sala altera a direcção e o sentido. 

Rodamos no sentido que o vento, a circulação e os movimentos não tem algoritmo. Só hora de ponta. 
Na dessincronia, uma ocorrência ou uma realização que se der em simultâneo com outra não delineia cadência. 
No céu a lua cobre a terra, na terra o céu descobre a lua. As forças gravitacionais limitam os corpos presos na corrente.
A terra é fria por fora e ferve por dentro. A órbita repete-se e recria sombra e claridade entre o frio e o calor. 

Bio

Tomás Abreu (Lisboa, 1990) é um artista multidisciplinar, actualmente a residir no Porto. Licenciado em pintura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, 2015, possui uma pós-graduação em arte cinemática pela Escola das Artes da Universidade Católica do Porto.
Em 2018 apresentou as exposições individuais Onze segundos sacádicos na Galeria Painel, Porto, com curadoria de David Revés; e Anacronismo não datado, na Galeria Foco, Lisboa.

Actualmente desenvolve projectos de filme e escultura, e é curador do projecto colectivo Depois do estouro, a inaugurar no dia 7 de dezembro na Galeria Municipal do Porto.

“Você é o sol. O sol não se move, é isso que ele faz. Você é a terra. A terra está aqui para começar, e então a terra movimenta-se à volta do sol. E agora. Teremos uma explicação onde pessoas simples como nós podem compreender imortalidade. Tudo o que peço é que entre comigo na ausência de limites, onde o constante, a tranquilidade e a paz reina. Imagine que neste silêncio infinito e sonoro tudo é escuridão impenetrável. Aqui, apenas experimentamos o movimento geral e, não atendemos os eventos que testemunhamos. A luz brilhante do sol derruba sempre o seu calor e luz no lado da terra que é apenas então girado em diante. E estamos aqui no seu brilho. Esta é a lua. A lua gira em torno da terra. O que está a acontecer? Vês de repente que o disco da lua, o disco da lua, na esfera inflamável do sol, faz uma indicação, e esta indicação, a sombra escura, cresce, mais e mais. E enquanto cobre mais e mais, lentamente, um rasgo crescente do sol permanece, um crescente surpreendente. No próximo momento, o próximo momento – diz que em redor da uma da tarde – ocorre o evento mais dramático. Nesse momento, o ar torna-se subitamente frio. Sentes isso? O céu escurece, fica todo escuro. Os cães uivam, os coelhos cavam, os veados correm em pânico, correm, dão às patas com medo. E nesta escuridão terrível e incompreensível, mesmo os pássaros … Os pássaros também estão confusos. E então … Silêncio completo. Tudo o que vive está inerte. Os montes vão desabar? O céu vai sobre nós? A terra abre debaixo de nós? Não sabemos. Nós não sabemos, por que um eclipse total cobriu-nos… Mas … Mas não é preciso ter medo. Ainda não acabou. Com a esfera brilhante do sol, lentamente, a lua nada para longe. O sol explode e, lentamente, chega outra vez luz à terra, e o calor inunda novamente a terra. Profunda emoção chega a todos. Escaparam ao peso da escuridão.

Hagelmayer: Chega! Saiam daqui seus barris de cerveja!”

De ‘harmonias de werckmeister’, de béla tarr

EN

Terceira Lua (Third Moon)
2019
Installation with round mirrors, nylon thread, wire, spotlights, color filters

From a routine of two linear and inconstant movements, a third variable is extracted, originating the revelation of the other moon. Four variations of two overlapping circular reflections reproduce circular fragments in rotation. Two projections meet for an accelerated reflection, lasting a couple of seconds. Distance deforms the ellipse with the shape of the surfaces which draw the environment. The limits of the space disperse diagonal angles, while flow and movement in the room changes way and direction. We move in the sense that the wind, circulation and movements have no algorithm. Only rush hour. At the point of desynchrony, an occurrence or a realization that occurs at the same time as another does not delineate a cadence.  In the sky the moon covers the land, in the land the sky uncovers the moon. Gravitational forces limit the bodies that are stuck in a current. Earth is cold outside and boils inside. The orbit repeats itself and creates shadow and clarity between cold and warmth.

tomás abreu (lisbon, 1990) is a multidisciplinary artist, currently living in porto. He graduated in painting at the school of fine arts of the universidade de lisboa, 2015, and has a postgraduate degree in cinematic art from the school of arts of universidade católica, in porto.
In 2018 he presented the solo shows eleven saccadic seconds, curated by david revés at painel, porto, and anachronism non dated at foco gallery, lisbon.

He is currently developing film and sculpture projects, and is the curator of the group exhibition after the bang, opening on december 7 at galeria municipal do porto.

“you are the sun. The sun doesn’t move, this is what it does. You are the earth. The earth is here for a start, and then the earth moves around the sun. And now, we’ll have an explanation that simple folks like us can also understand, about immortality. All i ask is that you step with me into the boundlessness, where constancy, quietude and peace, infinite emptiness reign. And just imagine, in this infinite sonorous silence, everywhere is an impenetrable darkness. Here, we only experience general motion, and at first, we don’t notice the events that we are witnessing. The brilliant light of the sun always sheds its heat and light on that side of the earth which is just then turned towards it. And we stand here in it’s brilliance. This is the moon. The moon revolves around the earth. What is happening? We suddenly see that the disc of the moon, the disc of the moon, on the sun’s flaming sphere, makes an indentation, and this indentation, the dark shadow, grows bigger… And bigger. And as it covers more and more, slowly only a narrow crescent of the sun remains, a dazzling crescent. And at the next moment, the next moment – say that it’s around one in the afternoon – a most dramatic turn of event occurs. At that moment the air suddenly turns cold. Can you feel it? The sky darkens, then goes all dark. The dogs howl, rabbits hunch down, the deer run in panic, run, stampede in fright. And in this awful, incomprehensible dusk, even the birds… The birds too are confused. And then… Complete silence. Everything that lives is still. Are the hills going to march off? Will heaven fall upon us? Will the earth open under us? We don’t know. We don’t know, for a total eclipse has come upon us… But… But no need to fear. It’s not over. For across the sun’s glowing sphere, slowly, the moon swims away. And the sun once again bursts forth, and to the earth slowly there comes again light, and warmth again floods the earth. Deep emotion pierces everyone. They have escaped the weight of darkness.

Hagelmayer: That’s enough! Out of here, you tubs of beer!”

From ‘werckmeister harmonies’, by béla tarr