Playlist #54 Beatriz Blasi Posted in: Playlist

https://www.google.com/maps/place/Jerusalem,+Israel
2021

O projeto é uma pesquisa visual centrada na cidade de Jerusalém, uma das mais antigas do mundo, que é considerada uma cidade sagrada pelas principais religiões. Jerusalém tem sofrido várias mutações ao longo do tempo e o seu estatuto é há décadas um dos principais problemas na questão palestina. Mais recentemente, foi proclamada capital de Israel por Benjamin Netanyahu, sem reconhecimento internacional, contudo com o apoio dos Estados Unidos. É então criada uma narrativa visual por meio da plataforma Google Maps, que, por ser Norte Americana e não ser politicamente isenta, considera Jerusalém como a capital de Israel, ignorando a Palestina no mapa. Com esta compilação do espaço da cidade e das suas alterações de 2011 a 2015, pretende-se um olhar múltiplo, a dois tempos diferentes que coexistem na cidade de todos e de ninguém.


As plataformas de mapeamento público, como Google Earth, contam com empresas que possuem satélites para fornecer imagens de alta resolução e podem revelar detalhes de até meio metro ou menos.  As imagens de satélite e street view da plataforma da Google são uma importante ferramenta no relato de conflitos, porém são muitas vezes censuradas devido a restrições de “segurança”. Este repositório digital é utilizado para muitos fins, incluindo o rastreamento de desmatamento e incêndios florestais, bem como a investigação de abusos de direitos humanos em todo o mundo. Porém, no caso de Jerusalém isso não se verifica. Muitos investigadores procuram ter acesso a imagens de qualidade dos locais afetados pela ocupação Israelita, no entanto as imagens de Jerusalém disponíveis na maior plataforma digital de mapeamento encontram-se com baixa resolução e a sua última actualização é de 2015. O branqueamento de Jerusalém no Google Maps não só contradiz aquele é o objectivo da plataforma de actualizar regularmente o mapeamento dos locais densamente povoados, como suscita uma reflexão sobre a razão de ser estratégica e política.

Neste sentido, considera-se que a cidade de Jerusalém se encontra num contexto em que a terra e a propriedade são altamente controversas e inerentemente políticas e a plataforma Google, a maior fonte de dados geográficos digitais do mundo, detém um imenso poder para moldar e legitimar certas interpretações políticas. 

O mapa não é universal, é mutável e a sua forma de representação atende aos interesses dum dos lados, tornando-se numa ferramenta de opressão para o outro. Esta documentação visual pretende arquivar o maior número de imagens resultantes das práticas de mapeamento do Google Maps na cidade de Jerusalém, subvertendo a lógica opressora e funcionando como uma denúncia na qual a imagem documentada é tão importante como a que está em falta.

Bio

Beatriz Blasi (Lisboa, 1994) é uma designer e artista visual atualmente a viver no Porto.
Artista multidisciplinar, o seu trabalho é variado mas converge principalmente na criação de narrativas e séries, especialmente com recurso à imagem documental.

Beatriz Blasi privilegia a fotografia analógica, mas recentemente interessou-se pela era do pós-digital, mais especificamente a realidade virtual da plataforma Google Maps, onde as imagens virtuais são apresentadas como se fossem a própria realidade num repositório quase infinito e sem lei. A sua série do Google Maps foi publicada pela Principal Book III de Dezembro de 2020 e exposta no Anuário’20. 

https://www.google.com/maps/place/Jerusalem,+Israel
2021

The project is a visual survey centered on the city of Jerusalem, one of the oldest in the world, which is considered a holy city by the main religions. Jerusalem has undergone several changes over time and its status has been one of the main problems in the Palestinian question for decades. More recently, it was proclaimed the capital of Israel by Benjamin Netanyahu, without international recognition, but with the support of the United States. A visual narrative is then created through the Google Maps platform, which, being North American and not politically exempt, considers Jerusalem as the capital of Israel, ignoring Palestine on the map. With this compilation of the city’s space and its alterations from 2011 to 2015, the aim is to take a multiple look at two different times that coexist in the city of everyone and of no one.

Public mapping platforms such as Google Earth rely on companies that have satellites to provide high-resolution images and can reveal details down to half a meter or less. The Google platform’s satellite and street view images are an important tool in reporting conflicts, but they are often censored due to “security” restrictions. This digital repository is used for many purposes, including tracking deforestation and forest fires, as well as investigating human rights abuses around the world. However, in the case of Jerusalem this is not the case. Many researchers are seeking access to quality images of the sites affected by the Israeli occupation, however the images of Jerusalem available on the largest digital mapping platform are at low resolution and their latest update is from 2015. Jerusalem’s whitewashing on Google Maps not only contradicts the platform’s objective as to regularly update the mapping of densely populated places, but it also provokes a reflection on strategic and political reasonings. In this sense, the city of Jerusalem is considered to be in a context where land and property are highly controversial and inherently political and the Google platform, the largest source of digital geographic data in the world, has immense power to shape and legitimize certain political interpretations.

The map is not universal, it is changeable and its form of representation serves the interests of one side, becoming a tool of oppression for the other. This visual documentation intends to archive the largest number of images resulting from the mapping practices of Google Maps in the city of Jerusalem, subverting the oppressive logic and functioning as a denunciation in which the documented image is as important as the one that is missing.

Bio

Beatriz Blasi (Lisbon, 1994) is a designer and visual artist currently living in Porto. A multidisciplinary artist, her work is varied but converges mainly on the creation of narratives and series, especially using documentary images.

Beatriz Blasi favors analogue photography, but recently she became interested in the post-digital era, more specifically the virtual reality of the Google Maps platform, where virtual images are presented as if they were reality itself in an almost infinite and lawless repository. Her Google Maps series was published by Principal Book III of December 2020 and featured in Anuário’20 exhibition.

« Playlist #56 – João Bonito
Playlist 53 – André Covas e Carmo Azeredo (ACCA) »